Duzentos dias nos esperam...
O mês é Janeiro. Quanta expectativa e quanto caminho há pela frente. Quem serão os pequenos que estarão diariamente conosco? Eles chegarão com histórias, culturas, experiências únicas, medos, sonhos, desafios e expectativas também. Eles e nós.
O mês é Janeiro.Tudo está sendo pensado e preparado para as crianças, então terão espaço para brincar, para pesquisar, construir, descobrir e viver a infância na sua plenitude.
Os balanços muitas vezes serão feitos com cordas. No pátio terão tecidos e caixas de papelão. Tudo vai virar brincadeira. As marcas de tintas nos braços mostrarão que todo o corpo viveu a experiência. As propostas oferecidas dirão muito do conceito de infância do professor.
O mês é Janeiro, mas no decorrer do ano a escola estará cheia de registros das crianças por toda a parte. As paredes irão comunicar o que acontece ali. Elas se sentirão pertencentes aos espaços.
Não importa a idade. Todos terão voz, terão vez e serão respeitados. Farão descobertas importantes, como o caminho das formigas até o formigueiro ou a casa do João de Barro no poste da escola, ou mesmo de onde vem o reflexo de luz que entra diariamente pela janela. Talvez construirão hipóteses sobre os sons que saem da descarga do banheiro, ou mesmo sobre o tamanho de seus pés. Isso não passará despercebido pelo professor. Ele dará ouvidos à criança que aponta, ou a que fala.
Aos poucos, o Professor vai saber que uma das crianças não come a comida misturada. O outro não gosta de berinjela. Também vai saber que uma delas tem medo de um personagem da história e a outra se interessa muito pelo céu, pelo chão, pelo livro que fica lá no alto do armário.
O mês é Janeiro, mas ainda temos o ano inteiro para sentar no chão da pracinha e brincar com as crianças. Também teremos tempo para colo e abraços e isso tudo valerá tanto para eles, para nós e para todos.
Que ano incrível será esse! Crianças barulhando, correndo, ouvindo histórias. Nem sempre precisaremos de livros, por vezes os carrinhos serão os personagens ou mesmo os palitos de picolé. A história será construída conforme os olhares atentos dos pequenos. Assim, no cotidiano, vamos desenvolvendo a criatividade. Eles e nós.
E ainda nem falamos das trocas de fraldas! Que momento! Mãos tocarão os pequenos em um momento muito especial. Eles irão balbuciar e bater as mãos mostrando o vínculo construído com aquele adulto referência. Que ano! As salas serão espaços propositores. O brincar simbólico estará presente. Terá espaço para registro e para pesquisa. Tudo para que brinquem, para que descubram o mundo, para que se expressem. Eles vivenciarão experiências com sons e com luzes. Com as mãos, com a fechadura da porta, com cachorro que acompanha o colega até a escola. A arte estará presente todo o tempo. Terão acesso aos livros. Não importa a idade.
As famílias acompanharão as experiências das crianças pelos registros que fazem, pelas paredes da escola, pelas tintas debaixo das unhas, pelas marcas de terra entre os dedos do pé, ou mesmo pela fralda cheia de areia. O mês é Janeiro. As crianças com suas cem linguagens, serão as protagonistas de suas aprendizagens nos 200 dias letivos. 200 dias? Há muito o que descobrir. O inesperado e o exclusivo nos esperam.
Se as crianças tiverem voz, farão escolhas.
Se o cotidiano for vivo e pensado com delicadeza, as crianças viverão a boniteza da infância.
Se fizerem escolhas, trilharão caminhos.
Se revisitarem seus caminhos, terão história.
Será marcante e significativo.
Professores envolvidos e comprometidos com a infância, estudiosos e pesquisadores, abrindo janelas de possibilidades de aprendizagens para as crianças.
Ainda é Janeiro, mas o ano será incrível. As crianças serão respeitadas em seus ritmos, em seus tempos e a jornada diária será leve. Ainda é Janeiro e nós esperamos que tudo isso faça parte dos nossos dias, do nosso ano.
Esperamos.
Texto de Siméia Fernandes Goularte
